Por onde anda uma das primeiras mulheres a escrever sobre o Esporte no Tocantins?

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Inez Freitas durante entrevista com o ex-ministro do Esporte, Lars Grael – Arquivo pessoal

Por onde anda uma das primeiras mulheres a escrever sobre o Esporte no Tocantins?

Por onde nada umas das primeiras mulheres a escrever sobre esporte no Tocantins? Estou falando da jornalista Maria Inez Freitas de Oliveira, do signo de sagitário, nascida no dia 25 de novembro de 1971, hoje com 48 anos, e que durante cerca seis anos (1998/2004) fez a cobertura jornalística de muitas matérias esportivas pelo Jornal do Tocantins.

História

Inez Freitas entrou no Jornal do Tocantins em 1997, atuando como repórter do Caderno de Economia. Não demorou muito e foi conduzida em 1998 a escrever para a Editoria de Esportes. Segundo a jornalista, o editor-chefe Tião Pinheiro queria ampliar a cobertura do esporte amador e profissional, e acreditava que ela tinha afinidade com a área. “Naquela época se dizia que quando trocava um repórter de editoria, corria a lenda que era porque queriam que ele pedisse demissão, pois a regra da casa era não demitir, mas que o profissional não se identificasse e saísse fora”, e foi neste momento que a jornalista resolveu mostrar que sabia o que estava fazendo.

Diante deste novo cenário e a convivência do dia a dia na área esportiva foi ganhando experiência e provando que o editor-chefe tinha razão quando a indiciou para o Caderno de Esporte.

Tristeza

Inez Freitas lembra com tristeza que foram seis anos de cobertura do esporte amador de 1998 a 2004, mas quando foi demitida, numa de suas primeiras reestruturações da empresa, que saíram em torno de 30 profissionais.  “Lembro que cada um que era chamado à sala do Tião Pinheiro, eu contava. Fui a 13ª a ser chamada, e neste dia chorei como se tivesse perdido um ente querido, pois amava cobrir esportes”, ressaltou.

Ela recorda que foram seis anos de muito aprendizado, prêmios conferidos ao Jornal do Tocantins, mas com matérias redigidas por ela. “Ganhei um prêmio em 1999 com troféu na cobertura de kart. Fiquei muito feliz pelo reconhecimento do pessoal da área do automobilismo”, comemorou.

 

Confederação Brasileira de Tênis de Mesa (CBTM) homenageou a repórter Inez Freitas pela cobertura da modalidade no JTo; Inez durante entrevista com Hugo Hoyama – Divulgação

 

Entrevistas

Inez Freitas destaca as várias entrevistas que fez pelo Jornal conversando com grandes personalidades do esporte amador e profissional, alguns ela faz questão de citar como Bebeto, Branco e Carlos Alberto Torres. Segundo ela, foram inesquecíveis. Disse que tentou o Zagallo, mas ele tinha uma governanta que eu chamava de cão de guarda, que protegia o homem e não deixava atender telefonemas menos importantes.

Um dos momentos mais marcantes foi quando entrevistou o então Ministro do Esporte Lars Grael, e quando o reencontrou, ele tinha em mãos a página de esportes do Jornal do Tocantins com a matéria que ela havia feito com ele, e o próprio autografou, parabenizando e elogiando pelo material. “Guardei o jornal por anos, mas em uma das minhas mudanças, ele se perdeu, infelizmente”, comentou.

Outro momento marcante foi a viagem que ganhou do pai do piloto de kart,  Octávio Henrique Freitas. Era uma viagem a São Paulo para cobertura da premiação do Capacete de Ouro de 2003, na qual o garoto foi revelação na categoria Kart. Neste dia conheceu o tricampeão Mundial de F-1, o piloto Nélson Piquet, e outras feras como Hélio Castro Neves e Tony Kannan, ambos corriam da Fórmula Indy dos EUA. “Aliás, gostaria de saber por onde anda o garoto, afinal, o acompanhei até 2004, quando sai do jornal e, desde então, nunca mais ouvi falar sobre ele”, questionou.

Também não esquece quando conheceu o campeão Olímpico Hugo Hoyama foi homenageada pela Confederação de Tênis de Mesa pela cobertura de matérias falando sobre a modalidade no Tocantins.

Rally dos Sertões

Inez Freitas lembra ainda da primeira vez que cobriu o Rally dos Sertões. Segundo ela, foi muita emoção, pois ficou horas debaixo do sol esperando os pilotos chegarem na cidade, e à noite entrevistá-los. Na época até recebeu propostas de emprego para ir a São Paulo para fazer cobertura de esporte amador, entretanto, optou por ficar em Palmas. “Não me arrependo de não ter aceitado, só me achava imatura demais para encarar a cidade grande”, explicou.

Matera, jogador do Palmas, recebe o troféu de campeão Tocantinense de José Bonifácio: Jogo das Abelhas – Arquivo/Reinaldo Cisterna

Jogo das Abelhas

Quanto ao futebol, a jornalista disse que não gostava muito de cobrir, mas dava cobertura e tentava dar o seu melhor, até que aprendeu a gostar. Em 2001, foi cobrir a final entre Palmas x Tocantinópolis, no Estádio Lauro Assunção, em Tocantinópolis. Ela conta que ficou nas arquibancadas próxima torcida do Palmas para fazer os registros, quando do nada, no meio da barulheira, uma caixa (não sabe se abelhas ou marimbondos) estourou em cima das pessoas. “Pense, quantas ferroadas levei naquele dia. Mas não ficou só nisso, deu briga após a partida em que o Palmas faturou o título do Tocantinense, e as torcidas invadindo o campo, jogando pedras, eu levando pedrada, foi quando parei em frente ao vestiário do Palmas e pedi pelo amor de Deus para que o Belmiran José de Souza, diretor do Palmas, na época, deixasse eu entrar nos vestiários”, lembrou.

Mas neste momento desesperada com tudo que já havia vivido antes, entrou nos vestiários, e os jogadores do Palmas estavam tomando banho e todos sem roupas (pelados). “Fiz de conta que não era comigo, afinal, era uma profissional de esporte e dando abertura para outras mulheres, a exemplo da repórter Alcione Luz, trabalhar na área, aliás, umas das melhores que conheci no Tocantins”, destacou.

 Pioneira

Inez Freitas acredita que ter sido a pioneira na área esportiva. Outro grande colega era o Emiliano Lena, ele da TV e ela do impresso. Segundo a jornalista, uma rivalidade “grandiosa” entre os dois, mas para ver quem saia na frente com a notícia. “Nada além disso, pelo contrário, são amigos até hoje”, contou.

Nestes seis anos disse ter conhecido muita gente boa, e também muito picareta. Ela recorda que o editor-chefe Tião Pinheiro sempre falava para os repórteres checar as fontes, mas naquela época não é como hoje que os jornalistas têm mais recursos. “Lembro que um ciclista me disse ter sido campeão brasileiro no Pará, foi matéria de capa. Depois de uns três dias ficamos sabendo que ele estava bebendo na hora da competição e havia mentido”, relatou dizendo que ficou puto da vida e na hora falou sem pensar: “se não morrer, eu mato essa criatura”.  Foi feito outra matéria de capa enorme, com a caricatura dele com nariz de Pinóquio. Dias depois não é que o cidadão faleceu só não me lembro do que foi. Depois disso, Inez disse que ficou chateada, pois todo mundo tirava sarro, fazia piada de que não podia brincar ou mentir para ela, pois a mesma rogava praga e pegava.

Outras áreas

Saiu em julho de 2004 do Jornal do Tocantins e ainda tentou ter um caderno de esporte no site do Cleber Toledo, mas não conseguiu, porque o empresariado local não gostava de investir em esporte, publicidade. “Não consegui manter o site por falta de publicidade e daí fui entender porque os desportistas amadores não conseguiam obter melhores resultados. Falta de apoio”, comentou.

Depois disso, ela passou por alguns jornais, de Goiânia, Palmas e sites, mas jamais esqueceu do tempo de repórter de esportes,  uma das coisas que mais amava fazer.

Sem privilégios

Inez Freitas disse que ser jornalista esportivo tirou alguns privilégios dela, como folgas, feriados, sendo que os plantões tiram alguns fins de semana e feriados de lazer.  Ela lembra que às vezes eram 24 horas por dia trabalhando com aquilo que tanto amava.

Disse ter aprendido a escrever sobre esporte, cobrindo a área e com um grande professor, que foi Marcelo Santos, que na época era editor da pagina de Esportes. Segundo ela, Santos mandava os textos de volta para ela reescrever, dizendo que podia fazer melhor. “Elogio nunca, quando a matéria ficava boa era só um sorriso o canto da boca dele. E tive um grande parceiro Reinaldo Cisterna que também me ensinou muito”, recordou.

Preconceito

Se hoje tem preconceito contra a mulher que cobre esportes, imagina em 1998. Disse ter sofrido muito, pois muitas fontes na época, nem olhavam no rosto dela, mas com o tempo foram se acostumado, mas que tinha um jeito considerado um tanto truculenta, e o que doía era saber que estava sendo pressionada a provar que sabia o que estava fazendo, e que conhecia sobre esporte.

A jornalista disse que essa provação era o tempo todo, pois uma mulher é mais criticada por um deslize do que um homem que comete a mesma falha, então soube se impor e superar todas as barreiras e assim abrir portas para que outras  mulheres do Tocantins pudessem entrar nesse ramo do jornalismo”, finalizou.

 

Atualmente é funcionária pública da Prefeitura de Palmas (desde 2000) e faz Assessoria de Imprensa para a Federação Tocantinense de Futebol (FTF) nas horas vagas, desde 2013. É casada. Morou parte de sua vida em Uberlândia (MG), mas reside em Palmas desde 22 de setembro de 1996.

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