Loteria Timemania, outro ano de muito fracasso

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A Timemania não vai resolver o problema do endividamento bilionário dos clubes brasileiros de futebol, embora tenha sido criada para isso. Quando foi lançada, em março de 2008, a expectativa do governo e dos dirigentes dos clubes era arrecadar cerca de R$ 540 milhões. Mas a loteria não agradou a apostadores e torcedores e amealhou apenas R$ 112 milhões, ou 20,7% do pretendido. Em 2009 a situação foi ainda pior. Enquanto, no ano anterior, em 10 meses de funcionamento, a Timemania arrecadou pouco mais de um quinto do planejado, no ano passado conseguiu, em 12 meses, apenas R$ 110 milhões, ou 20,3% daquilo que havia sido o sonho de dirigentes e do governo. Para jogar mais pessimismo na situação, a dívida do conjunto dos clubes continua subindo em ritmo alucinante. Em 2007, era de R$ 2,57 bilhões; em 2009, alcançou os R$ 3,24 bilhões.


Como somente 22% do total arrecadado pela Timemania são direcionados para o pagamento das dívidas dos times com a União – Previdência Social, Imposto de Renda e débitos com a Fazenda Nacional -, quase nada fica para os clubes. Nessa realidade de números decepcionantes, pode-se buscar um exemplo de como as coisas vão mal na situação do Flamengo, o clube que mais arrecada com a Timemania e o primeiro no ranking dos que mais devem à Previdência Social.


A dívida do Flamengo é de cerca de R$ 333 milhões, de acordo com o clube. Dizem respeito tanto à Fazenda Nacional – renegociada por 240 meses para que o time tivesse o direito de receber os repasses da Timemania – e com todo tipo de fornecedores particulares. Só as dívidas previdenciárias do Flamengo são de R$ 51 milhões.


Como o clube recebeu R$ 990 mil da Timemania em 2009, serão necessários 51 anos para que o Flamengo quite seus débitos com o INSS, sem contar a dívida com o IR e outras relativas à Fazenda Nacional, mantidas sob sigilo porque não estão em execução. Como a negociação das dívidas possibilitada pela lei da Timemania foi de 20 anos, o Flamengo não conseguirá pagar nem o que deve para a Previdência com o dinheiro do jogo – necessitaria de mais 31 anos.


A situação dos outros clubes segue o mesmo caminho. Dirigentes de Flamengo, Vasco, Corinthians e Palmeiras, entre outros, afirmam que a loteria não resolveu a situação, embora peçam para não aparecerem como críticos de um programa que, afinal, ajuda os clubes, embora aquém das expectativas.


No Ministério do Esporte a reação é semelhante. O ministro Orlando Silva, que está em viagem pelo exterior, fala abertamente que a Timemania não resolveu a situação. No ano passado, afirmou ao Estado que a situação era mesmo ”frustrante”. No governo, especula-se que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva poderá propor mudanças na lei, principalmente porque a Copa de 2014 se aproxima e clubes quebrados podem atrapalhar os planos oficiais.


Na Caixa Econômica Federal, a informação é de que, por ora, a Timemania corresponde às expectativas de arrecadação. E que ocorre com ela o mesmo fenômeno verificado na Mega-sena: quando o prêmio acumula, as apostas crescem.


Em 2010, o sistema de distribuição do dinheiro mudou. Os 20 primeiros times – que recebem 65% da parte destinada aos clubes – não serão mais definidos pela classificação do Campeonato Brasileiro da Série A, mas pelo número de apostas do torcedor no seu time. Desse modo, subiram cinco neste ano para o grupo dos privilegiados Bahia, Fortaleza, Vitória, Coritiba e Ceará.



(Fonte:AE)